Porque certas denúncias surgem em determinados momentos e não em outros ? O caso Palocci, que poderia ter sido denunciado anos atrás, veio à tona justamente quando o governo estava “atrasando” os planos do “agronegócio”.
Veja uma análise política baseada em informações de especialistas em bastidores
Aquele diretor do FMI, preso pelo ataque sexual à camareira, teria sido preso no Brasil ? Estamos longe da promessa que a lei seja “igual para todos”, por isso as pessoas gostam quando um poderoso é submetido aos “rigores da lei”. O que poucas pessoas acompanham - até pelo enjôo que ao assuntos políticos causam - são os bastidores de certas denúncias. A “bola da vez”, agora, é o caso Palocci. O que está por trás disso, quais são os “bastidores” do comportamento político?
“Não fui o único ex-ministro que enriqueceu” foi sua defesa, sem lógica do ponto de vista ético. Na verdade, é um aviso para seus acusadores. Do “mensalão” só soubemos por causa disso, quando o Rioberto Jeferson, acuado por denúncias a seu partido (num órgão público federal), resolveu dar uma lista dos envolvidos naquela prática.
Não é só o dinheiro dos políticos denunciados que está em jogo. Os interesses dos acusadores são decisivos, estamos falando de negócios (o código florestal, por exemplo, num site de um grande jornal gaúcho, está na seção “dinheiro”). A maioria das pessoas não gosta nem de saber destes bastidores, ouve falar algumas coisas, mas fica com nojo e pula para a parte de esportes, ou de novelas, celebridades, assuntos menos estressantes.
De que adianta se revoltar se não podemos “fazer nada”? Por outro lado, se não estivermos bem informados, podemos estar sendo manipulados em nossos sentimentos de revolta. Luís Fernando Veríssimo, com suas brilhantes sátiras sobre o comportamento, é um mestre em nos mostrar sentimentos de revolta justos, mas mal canalizados. Quem conhece os bastidores da política sabe que existe, sim, uma relação entre o momento em que surgiram as denúncias contra Palocci e a votação do código florestal. Está no site de política de O Estado de S.Paulo, por exemplo, depois veio o desmentido do governo no site de O Globo. Funciona assim: os 200 deputados “ruralistas” passariam a bloquear a pauta do Congresso se o código florestal não fosse votado, apoiariam a oposição para desgastar o governo com as denúncias contra Palocci, etc.
Deveriam ser dois assuntos diferentes, o caso Palocci e o código florestal, não deveriam ? Para o interesse da sociedade, importa a ética dos ministros. E também importa a proteção ao ambiente, com as consequências que a ciência nos adverte há décadas e que já estão aí. Os dois assuntos, em si, não deveriam ser misturados. Gostemos ou não disso, é assim que funciona a política. Porque não gostamos desses assuntos, porque não nos inteiramos deles, nossos justos sentimentos de revolta podem ser canalizados pelos políticos para voltar nossa atenção para um assunto, enquanto eles decidem outro neste momento.
Montserrat Martins
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