A gente faz coisas estranhas na vida, que não tinha planejado fazer, nem imaginava um dia confessar para os outros. Confesso que assisti a uma sessão da Câmara Federal, em tempo real pela internet, até o fim. Das coisas estranhas que vi, veio a vontade de contar para alguém. Obrigado por não ter parado de ler ainda.
Primeiro, as galerias vazias, o população não teve acesso a assistir aos debates ao vivo, portanto nem de se manifestar. Os deputados falando o tempo todo em nome do “povo”, mas eram eles mesmos – os blocos de deputados – quem se aplaudiam e se vaiavam reciprocamente. Assunto polêmico: alterações propostas no Código Florestal.
O líder do partido do governo revelou, então, que sua bancada se retiraria da votação (que ficaria adiada) porque o relator (Aldo Rebelo) havia feito alterações em algumas palavras após o acordo de líderes no texto que seria levado à votação.
Na sua vez de falar, o relator apelou para o ataque, “denunciando” que no twitter a ex-senadora Marina estaria dizendo que ele havia “fraudado” o texto; a partir daí, ele passou a fazer acusações contra o marido dela. O projeto que seria ou não votado, as alterações que foram ou não feitas após o acordo, viraram então assunto pessoal, Aldo versus Marina. Jogo de cena? Baixaria? Em horas assim lembramos porque as pessoas não gostam de política. Ou porque algumas gostam, é claro, tem gosto pra tudo.
Para fechar a noite (e aliás, já à meia-noite), o presidente da Câmara foi “ameaçado” pela oposição de que haveria “revanche” contra projetos do governo que precisassem de quorum, já que a base governista retirara o quorum (após a troca de palavras do texto, pelo relator). Como se chamaria isso, justiça, retaliação, chantagem explícita ?
Confesso que assisti a tudo isso (ainda tem alguém lendo, a essa altura?), movido por um sentimento de “dever cívico”, sabe lá o que é isso? Tipo aquele pensamento de que “as pessoas que não gostam de política são governadas pelas que gostam”. Você pode não acreditar, eu confesso que assisti mas não gostei, só suportei por um “senso de dever”. Que é saber, afinal, o que pretendem fazer com o nosso futuro – começando por assistir o que pensam nossos políticos, para depois avaliarmos o que podemos fazer com isso.
Montserrat Martins