Pesquisa de opinião pública, neste início de junho, indica que 80 % dos brasileiros estariam contra as alterações que os Deputados Federais propuseram na votação sobre o Código Florestal. O resultado dessa pesquisa é um fato surpreendente, diante do grande assédio aos pequenos agricultores, aos prefeitos do interior e de todas as matérias na grande mídia falando da “necessidade” de rever tal código, sob risco de “falência” da agricultura.
Os cientistas e os técnicos em extensão rural (quer dizer, que trabalham em funções de assessoria técnica aos agricultores), na sua grande maioria, contestam a tese de que o Código Florestal precisaria ser modificado para não levar à “falência” do campo e dos municípios do interior. Sustentam o contrário, que a falta de cuidados ambientais é que resultaria em esgotamento de recursos logo adiante (como já ocorreu em algumas regiões rurais da China, por exemplo). Aliás, os pequenos agricultores sempre tiveram um tratamento diferenciado nessa questão, mesmo os defensores das leis contra o desmatamento aceitam regras mais flexíveis para os pequenos. Eles são alvo, na verdade, de uma disputa pelo seu apoio – que é parte da disputa de “imagem” das teses defendidas junto ao público em geral.
A luta pela opinião pública é fundamental em qualquer assunto que mexa com os interesses das pessoas. Dizem generais americanos, por exemplo, que foi aí que os Estados Unidos perderam a guerra do Vietnã, pois não conseguiram conquistar os “corações e mentes” das pessoas. A analogia serve para esse caso, pois o debate sobre a produtividade agrícola se tornou uma verdadeira “guerra” no nosso país.
Rica em contradições, aliás, como toda guerra. O senador Blairo Maggi, também ex-governador (MT) e conhecido latifundiário (ao qual já foi atribuído o título de “motosserra de ouro”), diz agora (em entrevista à Folha de S.Paulo) que o texto do Código Florestal aprovado pela Câmara Federal concede “anistia ampla, geral e irrestrita” a desmatadores e precisa ser alterado pelo Senado. Em contraste, a nova ministra Gleisi Hoffmann, recém indicada, precisa ser “enquadrada” por Dilma por já ter defendido publicamente posição contrária à da Presidenta.
Quem mensurar os espaços de mídia na defesa das duas teses em guerra – a de “mais áreas para agricultura” versus a de “melhor aproveitamento destas áreas” – pode constatar os generosos espaços para a tese do relator Aldo Rebelo, que chegou a ser premiado por ruralistas com o título de “Ambientalista de Ouro”. Disputa de palavras, tentativa de “marketing político”, é claro, como se fosse tão simples impingir algo à opinião pública, atribuindo um título a alguém, que contradiz suas ações. Como se vê pela pesquisa de opinião pública, não “colou”.
Montserrat Martins