Hoje enfrentamos racionamento de água em cidades como Novo Hamburgo e São Leopoldo, o rio Gravataí é um dos mais poluídos do país e o programa pró-Guaíba está abandonado desde o governo estadual anterior, dependendo agora de obras de saneamento de um programa municipal. A área rural de Porto Alegre, que ainda é de extensão significativa em relação a outras capitais, enfrenta pressões para sua descaracterização e já é tida como “rururbana”. No Rio Grande do Sul não ocorriam ciclones, nem eventualmente, até o início dos anos 2000, possibilidade esta que havia sido prevista apenas por José Lutzemberger ao alertar para a crise do clima com sua frase emblemática de que as áreas verdes “não são o pulmão, são o ar condicionado do planeta”.
O desafio do século XXI, todos sabemos, é a transição responsável para outro modelo de desenvolvimento, com novas tecnologias e ações efetivas de preservação do patrimônio ambiental do qual dependemos para nossa sobrevivência, a começar pelas florestas e rios. Se cabe a todos nós essa responsabilidade, é necessário que as instituições sejam instrumentos através do qual a sociedade empreende as ações pela sustentabilidade.
Os partidos políticos estão entre essas instituições que devem servir para a transformação social, com programas de governo eficazes, com capacidade de gerar respostas para os graves problemas atuais, como os exemplificados acima. Constatamos, agora, a crise de representatividade do atual sistema político brasileiro, no qual a proposta de desfiguração do Código Florestal, rejeitada pela ampla maioria da população, foi aprovada pela maioria do Congresso Nacional. Aos interesses do lucro imediato da bancada ruralista, irresponsável em relação ao patrimônio ambiental, se opuseram apenas as bancadas do PV, do PSol e setores do PT, dentre dezenas de siglas existentes. É verdade que apenas 5% dos crimes ambientais são enfrentados no país, na prática, como lembrou Fernando Gabeira. Nosso desafio é aumentar esse índice, ao invés de abrir mão dos instrumentos legais de proteção não só à qualidade de vida, mas à própria sobrevivência da espécie humana.
O Partido Verde de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul recebem a expectativa da população de que lutem por estas causas. Por este motivo durante dez anos, iniciados em 2002 e até o final de 2011, estive envolvido em reuniões, eventos, elaboração de programas de governos, campanhas e convívio dentro do PV gaúcho, sempre ao lado dos que lutavam para que a sigla cumpra a promessa que traz no nome, por muito tempo na oposição interna e por isso sem ocupar cargos. Nos últimos dois anos, desde 2009, participei mais diretamente da renovação da liderança partidária e através de pré-convenção fui eleito para representar o PV no cargo majoritário da campanha de 2010. Neste período, houve sintonia entre nossas convicções e o partido todo, resultando em boa imagem perante a população.
O PV programático de cuja direção participei, com muita honra, teve seminários para construir programas de governo e propor políticas públicas para educação, saúde, segurança, transportes, habitação, geração de emprego e renda, novas tecnologias, que levaram o PV ao quarto lugar nas eleições ao governo do Estado em 2010.
No atual momento, que poderia ser a continuidade deste Partido Verde programático no qual me inscrevi entre seus dirigentes, existem outras questões estratégicas a serem consideradas.
Nos últimos dias, nas tratativas para as eleições 2012, ficou claro para mim, finalmente, que não existe mais a sintonia entre este ex-candidato e a direção do partido ao qual representei em 2010. Quando argumentos contra minhas convicções passaram ao terreno pessoal e outro dirigente anunciou que iria pedir minha expulsão, ficou evidente que um ciclo havia se encerrado. Mais simples que aprofundar essa seara de discórdia é simplesmente, desde já, solicitar minha desfiliação.
Por dez anos tive a oportunidade de conviver e tentar ajudar o PV gaúcho a encontrar o seu melhor destino, para que fosse mais que uma sigla e estivesse de fato à serviço da sociedade civil e da causa ambiental, tão urgente, para construir um modelo de desenvolvimento que mereça o nome de sustentável e não seja apenas peça de marketing político. É isso que a sociedade sempre esperou e continuará esperando do PV.
Deposito nas novas gerações, nos mais jovens, a esperança da continuidade dessa luta pela causa dentro do PV. Tenham em mim, sempre, um aliado sincero dos verdes autênticos, agradecido pela oportunidade desse convívio de uma década que muito me ensinou.
A política partidária é fundamental mas não é a única forma de contribuirmos com a sociedade. Nesse momento, serei mais útil à causa em outras trincheiras, de onde torcerei para o sadio crescimento do PV. Valorizo apenas as boas experiências e não levarei memórias de ofensas pessoais, que deixo no passado ao me desligar, não participando mais assim de quaisquer conflitos por posições diferentes dentro do partido.
Dizem que as instituições são maiores que as pessoas, pois estas são passageiras. Quero acrescentar que as causas são maiores que as instituições e se estas existem é para que sirvam às boas causas. No serviço em prol das boas causas, levo a convicção de que poderemos nos encontrar mais adiante, em todas as tarefas aqui exemplificadas, nas lutas pelo bem comum que a sociedade espera de cada um de nós.
Recebam um abraço,
do Montserrat Martins