segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O VERDE COMO A NOVA ESQUERDA MUNDIAL

A humanidade neste último século assistiu a um desprestígio – senão a um declínio – mundial da esquerda nas frentes políticas. Diminuíram-se os intelectuais e aqueles mais prestigiados caíram na “velha guarda”, mais do que refutados ao longo dos tempos.
Em inúmeros países ao redor do globo, governos utilizaram-se das políticas macroeconômicas, ditadas aos quatro ventos por teóricos capitalistas e economistas, bancos e fundos internacionais, que reconheciam a supremacia do capital e do livre mercado como dogmas incontestáveis para o progresso das nações.
A esquerda internacional, em seus moldes originais, talvez porque carente de lideranças corajosas, talvez porque refém das próprias lideranças políticas, viu-se acuada frente a um renascimento estrondoso das políticas liberais. Resignou-se, ou por falta de opção, ou por sobrevivência, a políticas de assistência social e reforço do Estado nessa direção.
Não obstante, ainda que esquerda, tornou-se demasiado fraca para enfrentar o reconhecimento social das políticas capitalistas, como ordem de progresso material, somente indo ao “embate político” munida das armas assistenciais. Fraca porque o setor produtivo da sociedade, por ver a questão meramente pelo lado assistencial e não pelo lado distributivo, criticou comumente como “dar o peixe” e não o “ensinar a pescar”.
Mas o tempo desse reinado absoluto está por findar. O sistema social baseado no consumo “qualquer seja o preço”, na busca incessante por aumento de produtividade e na salvaguarda constante da economia levou a humanidade a uma sinuca de bico: ou muda a jogada, ou perde o jogo. E, nesse caso, perder o jogo significa empurrar a humanidade e o ecossistema global a um colapso! Previsões das mais desastrosas estão sendo levantadas por renomados cientistas mundiais e, mesmo o senso comum, consegue enxergar a situação caótica que uma mudança no clima ocasionará à humanidade.
Que urge a necessidade de se fazer alguma coisa pelo meio ambiente – e pela sobrevivência das espécies, inclusive o homem – é incontestável. Exatamente neste ponto que reflito que a esquerda mundial ganhou uma nova “arma”, poderosa, para, novamente, enfrentar o embate político contra o capital, ou melhor, contra políticas meramente capitalistas, as quais focam exclusivamente o progresso sem a necessária preocupação com o meio ambiente e com a distribuição das riquezas.
Neste ponto, a defesa pelo meio-ambiente surge como uma esquerda inovada, com políticas que, focando o desenvolvimento ou simplesmente buscando lucro, não descurem da imperiosa obrigação de fazê-lo de modo sustentável. Surge, enfim, como ponto crucial para a evolução humana. Está proporcionando à sociedade um novo paradigma de desenvolvimento social, forçando-a a refletir outros caminhos pelos quais a humanidade pode evoluir. Quem sabe uma diminuição no crescimento demográfico? Como podemos fazer isso?
Enfim, a humanidade está, aos poucos e vagarosamente – talvez até demais – dando-se conta: afinal, estamos no caminho correto? Será que é tão necessário assim estar sempre em busca de salvar a economia? Será que não estamos jogando a bóia do barco – que está afundando – para longe e perdendo a oportunidade de nos salvarmos?
A defesa do verde é a nova esquerda mundial. Quem deseja viver em uma sociedade melhor, certamente defenderá o verde, pois, hoje, é o maior, senão o único, pretexto que os governos e o Estado possuem para frear esse sistema social que trouxe a humanidade neste patamar, porque não dizer, lamentável.
Matheus Duarte
Advogado
Rio Grande, 09 de fevereiro de 2010.

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