quarta-feira, 21 de abril de 2010

O RIO DE JANEIRO PODE SER AQUI?

Ana Elisa Prates

Em todos os noticiários somos informados sobre a tragédia que se abateu sobre o Rio de Janeiro em razão das fortes chuvas. São casas inundadas, soterradas, e o que é pior, centenas de famílias que perderam muito além dos bens materiais, mas seus entes queridos, mais de 200 mortos. Vítimas de uma tragédia anunciada? Talvez... Sabemos da existência de uma crise climática; especialistas alertam sobre o aquecimento global, que em parte explica o aumento das secas e do volume das chuvas. Contudo a crise climática, a qual o planeta vem passando, não explica por si só o drama que viveu o estado do Rio de Janeiro.
No início do século XX, no Brasil ocorreu o processo de expansão urbana e o aumento populacional, que se intensificou nas décadas finais. Neste período constituiu de forma rápida e sem planejamento os aglomerados urbanos. Desta forma, em razão da crescente ocupação desordenada de áreas urbanas gerou uma série de riscos tanto para o meio ambiente como para a sociedade. Tais áreas estão sujeitas a ameaças de deslizamentos de terras, enchentes e inundações, podendo levar a morte de pessoas ali residentes, como aconteceu nos últimos dias no Rio. Portanto, não foi exatamente uma surpresa a situação de risco em que aquelas pessoas se encontravam, somado a isto, como divulgado pelos meios de comunicação, estudos científicos feitos alertavam as autoridades para esses perigos. Assim sendo, se ações preventivas tivessem sido tomadas, não evitaria as intensas chuvas, é claro, mas muito da catástrofe.
Neste ponto, cabe perguntar qual é a situação do Rio Grande do Sul. Quantas famílias em todo o estado encontram-se vivendo em áreas de risco, passíveis a esse tipo de acontecimento? Quantas famílias vivem em torno de arroios? Existirão comunidades habitando moradias construídas sobre aterros de lixões? Quais estudos existem no Rio Grande do Sul sobre ocupações desordenadas e seus riscos? Estaremos propícios a semelhante situação vivida no Rio de Janeiro?
Além dessas indagações mais iminentes, é importante refletir sobre questões mais abrangentes. Por exemplo, saber qual a razão do crescimento desordenado nos centros urbanos? Por que parte da população se vê impelida viver em condições, muitas vezes, subumanas? Embora estudos sejam feitos sobre os riscos que as aglomerações desordenadas podem causar ao ambiente natural e ao ser humano, por que pouco ou quase nada é feito pelas autoridades competentes?
É possível que a resposta esteja na opção do modo de vida que adotamos. Noutras palavras, no modelo de desenvolvimento do consumo desenfreado, da elevada especialização e mecanização da produção, do controle burocrático de “cima para baixo” e, sobretudo, do uso indiscriminado do capital natural, a natureza. Novos paradigmas são necessários para dar conta do fenômeno das mudanças climáticas. São mudanças de padrões que passam pelo uso de energias renováveis, de incentivos inteligentes aos modos de produção não poluentes, pelo agro-negócio, pelos transportes, pela arquitetura e urbanismo, pelo consumo consciente e a compreensão da interdependência de cada ação do homem sobre o meio ao qual ele vive.
Do terrível acontecimento vivido pelos cariocas possa servir de reflexão para as eleições que se aproximam. Que o voto não seja apenas para escolher uma biografia, mas, a escolha de outro modo de vida, um modo sustentável de viver o século XXI, evitando que o Rio de Janeiro venha ser aqui ou qualquer outro lugar do Brasil.

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