sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O século chinês?

                   
O Fórum Econômico Mundial, em Davos, incluiu na pauta os extraterrestres e as “oportunidades de investimentos” em outros planetas. Esse fórum não é assunto para o “povão” e assim os humoristas populares não vão aproveitar a “deixa” de que os maiores poluidores deste planeta, protagonistas em Davos, agora querem “investir” noutros. Mais sério que este foi um debate realizado no Canadá em 2011 e agora lançado em livro, “O século XXI pertence à China?”. Dois “experts” internacionais de cada lado desfilaram seus argumentos, a favor e contra a hipótese de que a China conquistará a hegemonia econômica mundial.

“O século XXI será da China pelo declínio de uma América obesa, dependente de dinheiro emprestado e sexualizada demais”, polemizou Niall Ferguson. Não se trata de um ponto de vista moralista, mas sim de um professor de Administração de Empresas na Harvard Business School e editor do Financial Times. Contra a hipótese da hegemonia chinesa falou Fareed Zakaria, editor da revista Time: “A China ainda não solucionou um problema básico, o que fazer quando surgir uma classe média e como o governo responderá às aspirações desse grupo de pessoas. Quando a Coréia do Sul passou por isso, houve uma transição para a democracia e essas transições não são períodos fáceis”.

Você não precisa trabalhar na indústria do calçado no Vale dos Sinos nem ter uma lojinha de 1,99 para saber que tudo que acontece lá nos afeta direta ou indiretamente. Trata-se de concorrência desleal, baseada em trabalho escravo? De uma sociedade tipo “espartana” (em contraste com os valores “atenienses” ocidentais) em que o Estado é mais importante que os seus cidadãos? “No nosso modelo – em comparação com o modelo dos Estados Unidos e de outras nações ocidentais – o bem-estar e a estabilidade social são mais importantes do que a mera liberdade individual”, argumentou o chinês David Li, membro do Comitê de Política Monetária do Banco Central de China.

As relações entre as potências mudaram nos anos 70, o que colocou Nixon na História, por menos que você goste dele. David Li descreve o pragmatismo oriental do processo de Reforma e Abertura, revelando que “Deng Xiaoping anunciou: 'Nada de debates. Vá lá e faça'. Deng Xiaoping não seria muito fã de debates como esse aqui. Talvez pudesse ser fã da Nike, 'Just do it'...”. O principal articulador desta aproximação foi o secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, autor de “On China” (“Sobre a China”). Grande admirador do país, ele é no entanto um cético quanto à hegemonia chinesa: “Eu diria que a China estará ocupada com enormes problemas internos e com seu entorno imediato durante esse século”.

Todas informações sobre a sociedade chinesa convergem em que aumentam as reivindicações de trabalhadores, pressionando por melhores salários e condições de trabalho, em busca de qualidade de vida, o que encarecerá também seus produtos. Esse processo pode levar décadas, é claro, e até lá muitas indústrias daqui já terão sucumbido à concorrência chinesa. Aspecto interessante é o que isso gera não só em nós, à distância, mas na própria vizinhança, como descreve Fareed Zakaria: “As pessoas gostam de falar sobre a ascensão da Ásia. Eu fui criado na Índia Não existe esse negócio de Ásia. Os países não gostam muito uns dos outros. A ascensão da China provocará uma reação enérgica na Índia, no Japão, na Indonésia, no Vietnã e na Coréia do Sul. Já começamos a ver sinais disso”. Pelo pluralismo, que assim seja.

  Montserrat Martins

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