terça-feira, 7 de junho de 2011

Hilda Zimmermann foi matéria no Jornal Estado de S. Paulo


–ÔJuarez, o que dizes ao ver tua esposa de megafone

na mão fazendo passeata pela Rua da Praia?

Se a pergunta causaria desconforto a ummarido

conservador hoje, imagine-seem 1978, emplena

ditadura militar, na capital deumdos Estados considerados

mais machistas do Brasil, o Rio Grande do

Sul. Mas, contrariando a expectativa do amigo que o

alertava na ocasião, Juarez disse:

– Hilda émãe. Mãe é mulher. E apenas amulher

poderá salvar o ser humano do polo do perigo ao

qual se lançou. Ela tem todo omeu apoio.

A passeata era contraumprojeto habitacional

que colocaria em risco porções preservadas de Mata

Atlântica. Graças ao pioneirismo demulheres

como Hilda Zimmermann, Magda Renner e Giselda

Castro, o então governador Amaral de Sousa teve

de receberum documento com as denúncias e o

assunto chegou à imprensa.

Muito tempo depois,em solenidade no Congresso

Nacional, Hilda, de 88 anos, receberia o Prêmio

“Amigos da Mata Atlântica”, uma entre tantas deferências

a sua trajetória de luta pela causa ambiental

e pelo direito dos povos indígenas.

Ao lado de nomes como José Lutzenberger

e Augusto Carneiro, ela

foiuma das fundadoras da primeiraONGambientalista

brasileira

e daAmérica Latina: a Associação

Gaúcha de Proteção ao

Ambiente Natural (Agapan),

que nasceuem1971.Umtempoemque

preocupações com

agrotóxicos, queimadas e desmatamentos

eram coisa para poucos

abnegados – não raramente considerados

excêntricos.

Hilda teve desde sempre os ensinamentos do pai,

umcomerciante de Santa Rosa (RS), que nos idos

de 1920 dava abrigo aos indígenas que passavam

pela cidade e dizia: “Esta terra é dos índios, nós é

que somos os invasores.” Anos mais tarde, ela fundaria

a Associação Nacional de Apoio ao

Índio (Anaí), da qual foi a primeira presidente.

A veterana gaúcha faz uma analogia entre as

funções delegadas àmulher, de proteção aos

filhos, e o ecoativismo. “A mulher está identificada

com o ser vivo, o feminino ‘Gaia’, o Planeta Terra”,

observa a precursora ativista ambiental.

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